Especialistas e interessados no assunto informam que na atualidade o tempo é um estudo
especialmente quente na Física. A procura de uma teoria unificada força os físicos a emitir
diversas opiniões sobre essa matéria. Existem físicos que afirmam que não existe algo
como o tempo. Outros existem, contudo, que defendem a ideia da existência do tempo
como fundamento e que não deveria ser rebaixado. O que se sabe é que essas ideias são
debatidas desde os pré-socráticos. E o pessoal das ciências formula propostas e mais
propostas. Há quem diga que o tempo é uma curvatura do espaço formando cenários de
eventos. Bem, de uma forma ou de outra, o fato é que vivemos em tempos macros e micros
que passam e se esvaem.
Craig Callender, professor de filosofia da Universidade da Califórnia em San Diego, Estados
Unidos, coloca que: “O tempo provê uma ordenação completa de todos os eventos no
mundo. A simultaneidade é absoluta – fato independente do observador. Além disso, o
tempo deve ser contínuo, de modo que possamos definir a velocidade e a aceleração”.
Certo dia, numa aula de evangelização da mocidade, Cristina Luch perguntou a um
palestrante se o tempo de três anos que Jesus utilizou para Suas convivências públicas e
Seus ensinamentos e feitos foi previsto, anteriormente ou se seguiu a uma ordem natural
dos eventos. Todo mundo calou frente a tão profunda pergunta. O palestrante, antigo na
arte da retórica, entendeu que teria pouco tempo para responder com justiça e sabedoria
àquela adolescente que provavelmente surgiu das brumas de uma colônia espiritual de
estudos.
– Sim. Todo o tempo de Jesus foi previsto. Desde o momento em que decidiu encarnar
entre os humanos até o instante da Sua ascensão, de volta aos planos que habita.
E o que levou o palestrante à convicção da sua resposta? Exatamente a lógica existente na
taxação dos tempos destinados a cada evento. Ora, ao sairmos de casa para uma tarefa,
temos o tempo próprio a ela. A hora da consulta, da aula, da viagem. A hora do mercado, da
loja, dos eventos sociais. Tudo é definido antes e tudo deve ocorrer dentro daquela previsão
de tempo que não sofre solução de continuidade. Se não cumprirmos a proposta
previamente estabelecida, o tempo correrá independente. E é aí que necessitamos parar e
refletir. Voltando à afirmativa de Craig Callender de que “o tempo provê uma ordenação
completa de todos os eventos do mundo”, compete-nos igualmente prover nossas justas
adequações ao tempo de que dispomos.
Muitos encarnados esquecem-se disto e deixam a vida correr à solta, iludidos que se acham
na esteira do tempo. Quantos são convidados para as tarefas de adaptação espiritual e
preferem as tormentas incendiárias das volúpias desalinhadas, deixando para depois o
tempo dos ajustes. E o fazem sem ao menos saberem do tempo que lhes resta. Uma
encarnação é preparada, pensada, repensada. O encarnado traz consigo não só os deveres
sociais da automanutenção e garantias da sobrevivência da espécie. Traz também um
projeto de aperfeiçoamento. Provavelmente, todos os encarnados são devedores, em
determinadas escalas, junto às leis naturais do universo.
O tempo passa a ser nosso aliado por facultar-nos constantes vivências. Com elas surgem
as oportunidades de ajustes e ampliação dos conhecimentos e, dos efeitos dessas ações
permanentes, avaliações necessárias para a continuidade dos nossos sãos crescimentos.
Será que agimos assim? Ou temos matado o tempo a bel-prazer, como senhores indébitos
de um relógio que não está em nossas mãos?
As enciclopédias colocam que as ampulhetas eram frequentemente utilizadas em navios,
igrejas e, no início da utilização do telefone, para contar o tempo despendido numa
chamada. Esta prática era comum em algumas casas comerciais. Vejamos o símbolo de
uma ampulheta colocada sobre uma mesa enquanto alguém conversava ao telefone. Com
certeza reduzia palavras, tornando-se mais objetivo para pagar menos pela ligação. A
objetividade é, pois, corolário do tempo. Sendo assim, não seria de bom alvitre sermos
objetivos no transcurso das nossas encarnações? Todos retornaremos aos planos
espirituais. Em lá chegando teremos que avaliar o que fizemos e o que deixamos de fazer.
Os espíritas, em especial, terão muito o que dizer das suas administrações, uma vez que
muito recebem por aqui. Sabemos que as ampulhetas foram muito utilizadas na arte para
simbolizar a transitoriedade da vida. A morte, por exemplo, é muitas vezes representada
como um esqueleto com uma foice numa das mãos e uma ampulheta na outra.
O filósofo francês Mauriece Merleau-Ponty argumenta que a tendência que temos de
acreditar que o tempo flui é resultado de esquecer de colocarmos a nós mesmos e nossas
conexões com o mundo no quadro geral. De acordo com o filósofo, o tempo passa para os
outros e não para nós e vamos vivendo nesta ilusão. De repente olhamos no espelho e
vemos outra face, outros cabelos, onde rugas e esbranquiçamentos destoam daquela
aparência juvenil que acreditamos ainda possuir. E então dizemos, vencidos:
– É, o tempo passou!
E lá vamos nós questionar a Deus, achando ser Ele o responsável por aquele absurdo, por
aquela ação repentina do tempo, por aquela situação indesejada, culpando-O de ter se
esquecido de nós, de não ter nos alertado no tempo certo, ajudando-nos a nos servir melhor
do tempo que Ele próprio nos concedeu para aquela encarnação, para aquele evento de
magna importância. A espiritualidade coloca sabiamente no livro Pontos e Contos, de Irmão
X, na psicografia de Chico Xavier que:
– Deus nunca te esqueceu. Foste tu que lhe esqueceste as bênçãos no caminho do mundo.
Cuidaste apenas de matar o tempo e o teu tempo agora permanece morto. Trabalha para
ressuscitá-lo, meu amigo, perante a bondade do Senhor. As lutas do coração desfazem as
trevas que rodeiam a alma. Não esqueças a longa estrada que ainda tens de percorrer...
Assim, para os tempos macros, não existem aposentados, nem aposentadorias e muito
menos fixações a elas. Não existem tempos ermos nem tempos para matar. Na esteira geral
do tempo do universo estamos todos inseridos, portanto, muito temos que realizar. Nascer,
morrer e renascer na Terra é Lei, segundo anotações de Kardec e não basta nascer e
renascer somente, pois: “As formas fazem e se desfazem todos os dias”, segundo Áulus,
mentor de André Luiz. Aproveitemos enquanto é tempo. Diz o poeta que: “É tempo de saber
que o tempo não tem tempo para esperar o seu tempo de dormir e brincar...”. Assim sendo,
que venham as auroras e os crepúsculos e que neles estejamos em plenas atividades
salvaguardoras das nossas sadias realizações e crescimentos espirituais. Para isto fomos
criados por Deus para a imortalidade que nos permeia.
Guaraci de Lima Silveira – Matando o tempo, O Consolador, N.º 251 – 11/03/2012
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